segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Globalização

1.       O protecionismo contemporâneo
O protecionismo econômico tem acompanhado as trocas comerciais ao longo da história. Durante o capitalismo comercial, dos séculos XVI a XVII, por exemplo, o protecionismo alfandegário marcou as relações comerciais. Tratava-se de uma política voltada para proteger o comércio, cujo o objetivo era facilitar a concorrência.
Medidas protecionistas são adotadas em diversos países e se contrapõe à valorização do livre-comércio, amplamente estimulado no contexto da globalização econômica. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, entre as medidas protecionistas adotadas, destacam-se as barreiras comerciais, as quais podem ser agrupadas em duas categorias:
·         barreiras tarifárias: referem-se ao estabelecimento das tarifas de importações e taxas diversas para a entrada de produtos em um país. A produção nacional pode ser protegida por meio de aumento das tarifas sobre a importação de produtos.
·         barreiras não tarifárias: estão relacionadas à imposição de restrições quantitativas, à obtenção de licenciamento de importação, ao cumprimento de procedimentos alfandegários, à adoção de medidas antidumping[1], subsídios[2] e medidas sanitárias e fitossanitárias[3], entre outras.
A tabela abaixo apresenta o número de medidas protecionistas e liberalizantes em 2012. Note que na maior parte dos casos o saldo indica mais medidas protecionistas.
Número de medidas protecionistas e liberalizantes: países selecionados (situação em 2012)
Países
No de medidas protecionistas
No de medidas liberalizantes
Saldo
Argentina
179
16
163
Rússia
194
73
121
EUA
129
23
106
China
102
36
66
R. Unido
90
26
64
França
87
25
62
Alemanha
85
28
57
Índia
111
55
56
Itália
75
24
51
Holanda
69
24
45
Canadá
52
15
37
Brasil
96
68
28
Japão
30
4
26
Austrália
32
14
18
México
26
15
11
Chile
6
3
3
(Fonte: FOLHA de São Paulo, ano 92, n. 30847, Caderno Mercado, 21.9.2012, p.B1.)                                                                                 
Os países desenvolvidos adotam medidas protecionistas e justificam-nas ao afirmar que o baixo custo das matérias-primas produzidas nos países subdesenvolvidos e emergentes prejudicaria seu mercado interno. No caso dos produtos agropecuários, por exemplo, a baixa competitividade, somada à livre entrada de produtos mais baratos, provocaria crises no setor agropecuário interno.
A maioria dos países subdesenvolvidos e emergentes, por sua vez, justifica a adoção de medidas protecionistas com base na baixa competitividade das suas produções industriais, já que a importação irrestrita de produto de alto valor agregado poderia levar à falência de empresas nacionais e também a redução de empregos na indústria, o que tornaria esses países cada vez mais dependentes dos países desenvolvidos, inclusive tecnologicamente.
2.      2.
 Crises econômicas internacionais
O sistema capitalista caracteriza-se pela sucessão de períodos de crescimento ou expansão, seguidos de períodos de recessão ou retração da economia, ou seja, de crises econômicas. No decorrer de períodos de crescimento, há também aumento de consumo, da facilidade de obter empréstimos ( oferta de prazos mais longos e juros mais baixos), da valorização de ações de empresas entre outras manifestações de expansão econômica. Já na recessão ocorre o inverso.
Com a internacionalização da economia, intensificada ao longo de século XX, as crises atingem as grandes potências econômicas podem se estender por todo o globo e afetar, indiretamente, as economias nacionais. A inter-relação entre as economias nacionais faz com que a crise iniciada num país afete os demais, mesmo quando ela tem início em um país com menor influência econômica. O quadro a seguir apresenta uma síntese das principais crises internacionais nos séculos XX e XXI.
Principais crises econômicas internacionais (séculos XX e XXI)
Ano
Causas e países de origem
Reflexos no Brasil



1929
Quebra na Bolsa de Valores de Nova Iorque, nos Estados Unidos, gerada pela superprodução. A desvalorização das ações, que em 1932 chegou a 90%, gerou desemprego, e a estagnação da economia estadunidense e refletiu-se em todo o mundo. A crise levou a maior interferência e controle por parte do estado sobre a economia (Keynesianismo[4]). Essa prática deu origem, nos Estados Unidos, ao New Deal (Novo Acordo), com o objetivo de aumentar a interferência do estado na economia.
Queda acentuada no preço do café, um dos principais produtos de exportação do país no início do século XX.

1973
A Guerra do Yom Kippur[5] deu origem à crise do petróleo, que teve seu preço elevado no mercado internacional em razão do cancelamento das exportações da OPEP.
Queda nas taxas de crescimento da economia: de 9% (início da década de 1970) para 4,6% em 1978.


1979
Segunda crise do petróleo, desencadeada pela Revolução Iraniana[6]. Ayatollah[7] Khomeini (1902-1989) liderou a revolução e seu país tomou o controle da produção petrolífera. Os preços do petróleo dispararam novamente em razão do temor de um desabastecimento e, consequentemente, de uma nova crise econômica nos Estados Unidos.
Racionamento e aumento dos custos de importação do petróleo, o que elevou a dívida externa, impulsionada também pelo aumento dos juros nos Estados Unidos, os principais credores da dívida brasileira.

1987
Queda acentuada no índice Dow Jones (22,6% em 19 de outubro de 1987). A crise no mercado financeiro americano afetou bolsas europeias e asiáticas.
Agravamento da crise econômica que marcou a década de 1980 no Brasil, que suspendeu temporariamente o pagamento da dívida externa.


1998
Em 1997, teve início uma crise nas bolsas de valores de países de industrialização recente na Ásia, denominados Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Hong Kong, Indonésia, Tailândia, Malásia e Filipinas). No ano seguinte, essas crise refletiu-se nos demais países emergentes e exportadores de commodities[8], bem como na Rússia, naquele momento em transição do socialismo para o capitalismo.
Por ser um exportador de commodities, o Brasil também sofreu os efeitos da crise de investimentos em países emergentes. Ocorreu uma fuga de dólares (investimentos estrangeiros) da economia brasileira, a qual o governo tentou conter com o aumento da taxa de juros.


2008
Teve início uma crise imobiliária nos Estados Unidos, impulsionada pelas baixas taxas de juros que estimularam as vendas de imóveis no país. Entretanto, o aumento dessas taxas desaqueceu a economia e aumentou a inadimplência no setor imobiliário. Consequentemente, levou à falência de bancos que faziam os empréstimos para a compra de imóveis.
A crise provocou uma redução do crédito internacional, o que dificultou os empréstimos para grandes obras de infraestrutura no Brasil e o pagamento de dívida pelas empresas. A crise no sistema financeiro estadunidense refletiu-se em todas as bolsas de valores do mundo, incluindo a Bovespa.
2010
Um grupo de países na União Europeia conhecido como PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) passou por crises econômicas geradas pelo crescimento da dívida pública (dívidas dos governos, decorrentes dos gastos superiores às arrecadações). O risco da desvalorização do Euro, a moeda única da União Europeia, fez com que as economias que lideram o bloco (Reino Unido, Alemanha e França) criassem pacotes de medidas para ajudar os PIIGS a superar a crise que.
Houve redução das exportações brasileiras para os países europeus. Por causa da crise os europeus reduziram o consumo. Essa redução nas exportações para o mercado europeu, associado às incertezas do mercado financeiro e de crédito, refletiu-se negativamente no crescimento do PIB brasileiro nos anos de 2011 e 2012.
(Fonte: O ESTADO de São Paulo, 2012)
Referência:
JOIA, Antônio Luis; GOETTEMS, Arno Aloísio. Geografia Leitura e Interação – volume 3. São Paulo, SP, Leya, 2013.



[1] Medida antidumping: medida contra a prática de dumping, o qual consiste na venda de produtos a preços inferiores aos praticados no país de origem de uma empresa, cujo objetivo é eliminar a concorrência.
[2] Subsídio: concessão de benefício pelos governos a produtores nacionais para fortalecê-los diante da concorrência externa.
[3] Medida sanitária e fitossanitária:  restrição imposta a produtos de origem vegetal ou animal, como os da produção agropecuária (carne, leite, grãos e outros) com objetivo de proteger a saúde humana e o equilíbrio dos ecossistemas.
[4] Keynesianismo: doutrina econômica fundamentada nas propostas do economista estadunidense John Maynard Keynes (1883-1946), que, após a crise de 1929, defendeu a intervenção mais efetiva do Estado na economia com o objetivo de reduzir os efeitos da crise.
[5] Guerra d Yom Kippur:  ocorrido em outubro de 1973, durante o feriado judaico de Yom Kippur ou Dia do Perdão. Teve início com o ataque feito pela Síria e pelo Egito ao território de Israel, que, apoiado pelos Estados Unidos, expulsou os invasores. Em resposta os países árabes produtores de petróleo, aliados da Síria e do Egito, cancelaram a exportação de petróleo para os Estados Unidos e seus aliados.
[6] Revolução Iraniana:  também conhecida como Revolução Islâmica no Irã, foi o movimento de oposição à influência estrangeira no Irã. Liderado pelo Aiatollah Khomeini esse movimento fortificou-se na década de 1970 e derrubou o governo do Xá Reza Pahlevi. Com isso, o Irã passou a adotar o regime presidencialista, mas as decisões mais importantes são tomadas por um Aiatollah.
[7] Ayatollah:  importante cargo religioso do islamismo.
[8][8] Commodities: produtos agrícolas e minerais.

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